"Saiu no jornal..." é um blog experimental que pretende trazer crônicas feitas a partir de fatos publicados no noticiário esportivo. Formado em Jornalismo na Cásper Líbero, o autor Marcelo Braga é repórter do Diário Lance!.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Autor desconhecido
A notícia: No último domingo, a fan page oficial do lateral uruguaio Fucile, do Santos, no Facebook, trouxe uma receita para se preparar gambas (camarões, em espanhol), em clara provocação ao Corinthians, rival da semifinal da Copa Libertadores. A autoria da brincadeira com o "apelido" que os rivais deram ao Timão, porém, foi logo negada por seu agente, que garantiu que terceiros têm a senha da página e fizeram a brincadeira sem a autorização do atleta. Fugiu da raia, como Neymar já fez ao ofender um juiz em seu Twitter e depois culpar "um amigo" e como fez Jucilei, também no Twitter, quando cobrou a Gaviões da Fiel pela perda do Carnaval e depois culpou um hacker.
AUTOR DESCONHECIDO
Era algo descarado. Conhecedor dos horários dela, Joca se encostava no muro de sua casa minutos antes de ela passar pela rua. Dali, do alto de seu palco branco, observava todo aquele caminhar. Desde a virada na esquina superior até a entrada no portão dela, a apenas dez casas da sua, na Alameda dos Sabiás.
Miriam, que não era ingênua, já havia notado. Todos notavam, aliás. O bairro inteiro captava os sentimentos do rapaz. De sorriso doce, cabelos longos e olhar fuzilador, a mestiça era mesmo de hipnotizar.
Acontece que, certo dia, todos viram também quando aquele muro que o sustentava na arte de bisbilhotar sua musa amanheceu pichado. Do carteiro ao vendedor de livros, do vizinho da frente aos transeuntes da via, todos leram a declaração:
"Mesticinha, mesticinha. Há um muro que nos separa, mas um dia serás minha."
Todos leram. Inclusive Pedrão, caminhoneiro e namorado de Miriam que, chegado a uma briga, foi tomar satisfações. Amedrontado pela fúria do chucro brutamontes, Joca o atendeu ao bater de palmas, mas se defendeu dali de cima, de trás do muro, blindado em sua fortaleza.
- Não fui o autor disso aí. Não tenho nenhuma expliação a dar - dizia, com voz trêmula.
- Todo mundo sabe que você fica olhando pra minha mulher. Desce aqui que vou te dar uma surra, seu moleque - ameaçava o caminhoneiro, que na estrada já havia encarado brigas sanguinolentas por muito menos.
A discussão durou vários minutos e, entre as ameaças de um e a negação de outro, foi juntando público, que salivava pelas cenas de briga "ao vivo". Que só não ocorreu porque Pedrão tinha uma entrega em outro estado para fazer. E, vendo que não conseguiria resolver a coisa naquela hora, jurou vingança e entrou na boleia, ciente de que perderia muito dinheiro em caso de atraso.
O dia seguinte foi calmo e tranquilo, mas a nova manhã reservou outra frase ao muro das expectativas.
"Mesticinha, minha amada. O sentimento verdadeiro é o que fica. E não o que pega a estrada."
À tarde, antes mesmo de se posicionar no muro para vê-la passar, Joca ouviu palmas em frente ao seu portão. Do lado de fora, Miriam sorria e pedia para entrar. Ali, conversaram sobre o sentimento que brotava e, entregue a ele, ficaram juntos até a manhã seguinte.
Ao acordar ao lado daquela mulher tão desejada, Joca beijou-a no rosto e foi até uma loja de tintas. Munido de pincel e uma lata branca, apagou a última mensagem e, com um spray, rabiscou:
"Obrigado, desconhecido pichador. Que ao acreditar ser poeta se saiu um cupido do amor."
Daquele dia em diante, todos os apaixonados do bairro pintaram o seus muros de branco e ficaram à espera de versos que pudessem, enfim, engrenar seus casos de amor mal resolvidos.
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